Resenha: "Sushi", Marian Keyes


Sushi

Autora: Marian Keyes
Editora: Bertrand Brasil
Título Original: Sushi for Beginners
Gênero: Chick-lit / Romance Irlandês
Páginas: 574
Ano: 2000
Sinopse: "Sushi" é um livro sobre a busca da felicidade. E ensina que, quando você deixa as coisas ferverem sob a superfície por tempo demais, cedo ou tarde elas acabam transbordando. Perspicaz, engraçado e humano, este romance de Marian Keyes consolida sua posição como a mais popular jovem autora da Grã- Bretanha. Lisa Edwards, a durona e sofisticada editora de revistas, acha que sua vida acabou, quando descobre que seu novo emprego "fabuloso" não passa de uma ordem de deportação para a Irlanda, com a missão de lançar a revista Garota. Ashling Kennedy, a editora assistente da Garota, também tem seus problemas. É a Rainha da Ansiedade, e não é de hoje que sente que algo não está cem por cento na sua vida. E não só porque o que lhe sobra são bolsas, falta em cintura e namorado - mas porque, no fundo, no fundo, falta algo mais, como aquele pontinho minúsculo que fica na tela quando a gente desliga a TV à noite. Conhecida como "Princesa", a vida sempre deu a Clodagh tudo que queria (e por que haveria de ser diferente, quando se é a garota mais bonita da turma?). Ao lado de seu príncipe e dois filhinhos encantadores, ela vive um conto de fadas doméstico em seu castelo. Mas então, por que será que nos últimos tempos anda sentindo vontade - e não pela primeira vez - de beijar um sapo? (Abrindo o jogo: de dormir com um sapo). Mais um sucesso de Marian Keyes, que vem divertindo milhares de leitores no mundo todo.


Lisa Edwards é uma mulher completamente sofisticada e ambiciosa, é editora na revista Femme em Lodres e está certa que irá conseguir o cargo de redatora-chefe e ser transferida para Nova York. Porém, ao invés de seu cargo dos sonhos em Nova York, ela recebe a infeliz notícia de que foi transferida para Dublin onde irá encarar o maior desafio da sua vida: começar uma revista  do zero, a Garota. Completamente frustrada e mal-humorada, Lisa embarca deixando o seu maior sonho para trás. Entretanto, ao chegar lá, ela se depara com Jack Devine, o diretor da revista Garota, e também um cara beeem atraente. Aparentemente, parece que as coisas vão ficar boas. 

Lisa percorria o caminho sombrio de sua vida como uma sonâmbula. Embora uma sonâmbula bem-vestida e prepotente.

Ashling Kennedy, é uma pisciana sonhadora, sensível, perfeccionista  e absurdamente ansiosa. Acabou de passar na entrevista e conseguiu o cargo de assistente da sofisticada Lisa Edwards na  revista Garota. Esse emprego novo chegou na hora certa, cansada de sua vida solitária, Ashling decidiu mudar e viver novas experiências e, até quem sabe, abrir seu coração para o humorista Marcus Valentine. As coisas estavam mudando, finalmente conseguiu seu emprego dos sonhos, tirando o fato que seu chefe Jack Devine a apelidou de Senhorita-Quebra-Galho - graças a sua mania de organização - as coisas não poderiam ficar mais perfeitas. 

Tudo o que Ashling sabia era que quase nunca se sentia completa. Mesmo nos seus momentos de maior realização, algo permanecia eternamente ausente, lá no mais íntimo do seu ser. Como aquele pontinho semelhante a um orifício que fica no negro da tela quando a televisão é desligada a noite.

Clodagh Kelly tem a vida que toda mulher sonha ter: casada com um príncipe lindo, dedicado e apaixonado, com uma casa situada no melhor bairro da cidade e tem dois filhos adoráveis. Mas, nada disso lhe satisfaz. Nos últimos tempos ela se vê entediada de ficar em casa sem fazer absolutamente nada e absurdamente cansada de cuidar da bagunça que seus dois filhos fazem o dia todo. Clodagh vem sentindo uma vontade incontrolável de viver uma história as escondidas com um sapo. 


No começo não se dera conta, limitando-se a supor que se tratasse de um episódio isolado. Seguido por outro episódio isolado. E mais outro. Mas em que momento um conjunto de episódios isolados deixa ser um conjunto de episódios isolados para se transformar numa série?

O romance gira em torno de três personagens: a editora Lisa, sua assistente Ashling e a dona de casa Clodagh, que é amiga de infância da Ashling. Três mulheres diferentes, mas com uma coisa em comum: a busca pela felicidade. 
Narrado em terceira pessoa, o livro é bem cômico e detalhado. Eu sou suspeita para falar da Marian Keyes, pois sou fã de carteirinha, mas não tem como negar, ela escreve super bem e sempre consegue nos levar para dentro de suas histórias.
Lisa é uma mulher independente e toda segura de si. No trabalho não deixa nada e nem ninguém impedi-lá de alcançar os seus objetivos. Consequentemente, é uma completa megera com os seus funcionários. Focou tanto em sua carreira, que abriu mão de seu casamento, mas aos poucos foi se dando conta do que perdeu. Lisa foi uma personagem que me ganhou aos poucos. Mesmo com seu gênero forte, o amadurecimento dela é visível no decorrer da narrativa. Com as mudanças em todas as áreas de sua vida, depois de muitos altos e baixos, ela passa por uma autorreflexão interior e acaba indo atrás do que realmente a faz feliz. Gostei muito de acompanhar o seu crescimento na estória.
   
Ela conseguiu rir por entre as lágrimas, mas sua garganta doía como se estivesse entalada com um pedregulho.
Já Ashling, sem duvida, foi a minha personagem preferida. Ela é engraçada, meio insegura, a rainha da ansiedade e bem organizada - chega até ser um tanto obcecada com organização - tanto que foi apelidada no trabalho como a "Senhorita-Quebra-Galho". Passou por muitos problemas na infância e no decorrer da sua vida, por isso que se fechou para qualquer tipo de sentimento. Porém,  ela está cansada da solidão, daria tudo para ter uma vida parecida com a da sua amiga, Clodagh, com um marido e crianças perfeitas. E ela está disposta a se apaixonar e encontrar o amor. E ela se apaixona, se envolve profundamente, mas também tem suas amargas decepções. O que gostei bastante foram os seus diálogos com o personagem Jack Devine, são super divertido, torci bastante pelo relacionamento dos dois.

Sobre uma pequena mesa, ele dispusera os pauzinhos, o molho se soja, o gengibre e os demais apetrechos e ingredientes, e então, com um capricho exasperante, pôs-se a preparar os rolinhos de arroz para Ashling.- Não é nada exótico demais - assegurou ele. - É sushi para...- ... iniciantes, já sei. - Ela se sentiu profundamente comovida, de uma maneira que teria sido impossível seis meses antes, quando sua alma estava com defeito.
Por outro lado, Clodagh foi a personagem que eu menos gostei. Ela é mesquinha, egoísta, invejosa e não faz absolutamente nada para mudar a sua vida. Não tem amor pelos filhos, não valoriza o marido e se faz de vítima e coitadinha o enredo todo. Sua amizade com Ashling é cheia de segredos e ela tem inveja da amiga por querer uma vida bem-sucedida igual a dela, o que gera uma trama bem interessante entre as duas. Ela magoa todos à sua volta e não pensa duas vezes quando o assunto é satisfazer a si mesma. Ao contrário das outras personagens, ela é a única que não consegue mudar e permanece na mesma vida estagnada de sempre. Mas, os seu atos geram consequências que acabam gerando resultados irreversíveis. Clodagh foi a narrativa mais chata e entediante da estória, tinha vezes que tinha vontade de pular as partes dela. Porém, ao desenrolar do enredo e a forma que as estórias das personagens se cruzaram, valeu cada página. Eu amei desfecho dela, tudo que vai volta, minha cara Clodagh.

- As revelações são como os ônibus, não são? - Perguntou, maravilhada. - Não passa nenhum durante horas e, de repente, passam três de uma vez.

Marian Keyes sempre me surpreende e nesse livro não foi diferente. Sushi conseguiu me fazer dar umas boas gargalhadas e me fez sentir cativada pelas personagens fortes e humanas apresentadas. Uma trama divertida e bem desenvolvida sobre mulheres que representam super bem o conceito da mulher contemporânea. Marian conseguiu detalhar minuciosamente vários estereótipos femininos com leveza e com seu toque único e tão característico de humor.
Para quem gosta de personagens divertidos e sombrios ao mesmo tempo e com uma leitura leve, mesmo abordando temas como depressão, com certeza vai amar Sushi - que se tornou um dos meus chick-lit favoritos.